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DA INFLUÊNCIA DO CONHECIMENTO ORTOGRÁFICO SOBRE O CONHECIMENTO FONOLÓGICO
Estudo Longitudinal de um Grupo de Crianças Falantes Nativas do Português Europeu
João Veloso
Universidade do Porto
Neste trabalho, é discutida a possibilidade de o conhecimento ortográfico dos sujeitos interferir sobre determinadas propriedades do seu conhecimento fonológico.
O principal fundamento para essa discussão encontra-se especialmente em numerosos estudos da área da psicolinguística que se têm debruçado sobre dois assuntos: (i) a emergência da consciência fonémica dos sujeitos, aparentemente exclusiva de indivíduos com conhecimento da escrita alfabética; (ii) o processamento linguístico, em diversas manifestações, que apresenta diferenças entre sujeitos atribuíveis ao conhecimento ortográfico.
Um dos objectivos do presente trabalho consiste em integrar esta discussão no âmbito da linguística: sendo o conhecimento fonológico parte integrante do conhecimento da língua, e sendo este, segundo a linguística generativa, o objecto central de estudo da linguística, pareceu-nos relevante não circunscrever o estudo destas questões à esfera exclusiva da psicolinguística.
Tendo em mente estes pressupostos e limitando o nosso campo de observação ao português europeu, procurámos investigar a influência do conhecimento ortográfico sobre o conhecimento fonológico a dois níveis: 1) emergência das capacidades de manipulação fonémica; 2) divisões silábicas explícitas das sequências consonânticas Obstruinte+Lateral e Obstruinte /S/+Obstruinte do português. Para tanto, foi empreendido um estudo longitudinal de 42 crianças falantes nativas monolingues do português europeu que as observou, através de testes metafonológicos e de produção escrita, ao longo dos dois primeiros anos de escolaridade. Foi então verificado que, antes da aprendizagem da escrita, as crianças da população não evidenciam capacidades de manipulação fonémica e apresentam maioritariamente divisões silábicas das referidas sequências não conformes às respectivas normas ortográficas (considerando preferencialmente as sequências Obstruinte+Lateral como heterossilábicas e as sequências Obstruinte /S/+Obstruinte como tautossilábicas). Após a aprendizagem da escrita, verificou-se a emergência das capacidades de manipulação fonémica e uma conformação das divisões silábicas explícitas aos padrões consignados pela ortografia oficial (passando as sequências Obstruinte+Lateral a ser preferencialmente divididas como tautossilábicas e as sequências Obstruinte /S/+Obstruinte a ser divididas preferencialmente como heterossilábicas).
Com base numa série de argumentos amplamente desenvolvidos na dissertação, as modificações identificadas quanto aos aspectos referidos foram atribuídas à aprendizagem da ortografia da língua e foram interpretadas como indício sugestivo de que o conhecimento fonológico – que regula aspectos como os explorados – não seja totalmente impermeável a um factor ligado à experiência cultural dos indivíduos como a aprendizagem ortográfica.
Subsidiariamente, é concedido relevo ao tópico do valor das operações metafonológicas explícitas e das primeiras produções escritas infantis enquanto elementos reveladores do conhecimento fonológico implícito dos falantes.
ISBN 9783895863813. 550pp. Edição Linguística 57. 2006.